Apresentação

A diversidade da matéria reunida em uma coletânea de contos torna difícil para o autor a revelar o modo como as narrativas ali se entrelaçam e como, da tessitura de seu enredo, podem exalar, ou não, certo perfume reconhecível, mesmo que dizer perfume seja quase como evocar algo etéreo, abstrato, que lhes sirva de elemento de identidade ou de reiteração temática.


Como dar título a uma coletânea de contos?

Machado de Assis declarou que “o melhor dos títulos é ainda aquele que não precisa de explicação”. Isso disse para explicar o título de suas Histórias sem datas, cujo fim definido para aquelas páginas seria o de tratar, em substância, “de coisas que não são especialmente do dia, ou de um certo dia”.

O parágrafo acima consta da introdução do meu livro de contos Os nomes das substâncias do dia. O fato é que este título acabou sendo fortuitamente roubado daquele encadeamento de ideias contido na advertência feita por Machado de Assis.

Só bem depois me dei conta de que dizer “dia” implicava definir uma unidade abstrata alusiva ao decurso temporal inerente aos enredos daquele conjunto de relatos e que dizer “substância” sugeria uma matéria igualmente intangível, a qual nos leva a indagar: de que é feita a matéria da literatura de ficção? Que nomes dar a ela, ou que nomes podem melhor representá-la? Nomes são tentativas de reconhecer os atores ou de sentir as coisas de um universo misterioso. Como naquele verso do poema “Medida da significação”, de Cecília Meireles: Eu mesma deixei de entender a minha substância; tenho apenas o sentimento dos mistérios que em mim se equilibram.


Informações

Este texto é um trecho de material já publicado.

Excertos do preâmbulo do livro Os nomes das substâncias do dia

Link: https://bit.ly/3HL5u08

    https://linktr.ee/josedomingoscoelho
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