Apresentação
crônicas cerradas [c.c.] é um projeto desenterrado. surgiu quando decidi criar um pseudônimo para experimentar no gênero — ou usa-lo como guarda-chuva para todo escrito que eu julgo partilhável e que não se encaixa em nenhum dos projetos de livros futuros. comecei a envia-las por e-mail a um grupo inadvertido da procedência dos textos, certo de que a mira míope e a paranoia geral dos servidores os alocariam no spam. até o lançamento do VERVE, em outubro de 2024, nenhum dos destinatários, exceto por alguns amigos que se provaram ao identificar meu estilo nos textos, haviam me deflagrado. no espírito de destinar os textos a uma publicação mais apropriada, compartilho os melhores momentos dessa empreitada, quem sabe mais algumas experimentações inéditas, uma protocrônica por vez.
[c.c.] privilégios
Certa vez o poeta William Carlos Williams escreveu This is just to say/ Isto é só para dizer*:
I have eaten/ Eu comi
the plums/ as ameixas
that were in/ que estavam
the icebox/ na geladeira
and which/ as quais
you were probably/ você decerto
saving/ guardara
for breakfast/ para o desjejum
Forgive me/ Perdoe-me
they were delicious/ elas estavam deliciosas
so sweet/ tão doces
and so cold/ e tão frias
e desde então entendi, provavelmente pela primeira vez, o que é um poema. Entendi lá mesmo, em 1934, data em que foi escrito, a compreensão veio ainda enquanto a nota deixada para a esposa sobre a mesa da cozinha se escrevia através de seu autor, e eu era apenas um nada de poeira no ar. Que privilégio existir na mesma linha temporal em que esses versos foram docemente escritos — e quanta sorte a deles, de sobreviverem à carnificina dos homens, pois eu jamais conseguiria usar palavras para explicar como foi que eu entendi o que é um poema. Isto é, se algum dia me perguntarem isso.
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